
Oque é ser um conservador?
Bom dia a todos,como primeira postagem do site,gostaria de falar sobre:oque é ser um conservador?é normal nos dias atuais as pessoas confundirem conservadorismo com ideologia, ou até mesmo posicionamento político.
Segundo Russel Kirk (1918 - 1994) ,o conservadorismo não é uma religião nem ideologia,não possui livro sagrado nem um Das Kapital para promover dogmas,mas sim,princípios que definem o corpo de opiniões denominado de conservadorismo.
Em um artigo escrito por ele em,7 de janeiro de 1987 denominado de ''Os Dez Princípios Conservadores'' ele explica todo o pensamento que gira em torno do conservadorismo,sendo eles:
- O conservador acredita que existe uma ordem moral e duradoura
Esta ordem é feita para o homem, e o homem é feito para ela:a natureza humana é uma
constante e as verdades morais são permanentes.
Esta palavra ordem quer dizer harmonia. Há dois aspectos ou tipos de ordem: a ordem
interior da alma e a ordem exterior do estado. Vinte e cinco séculos atrás, Platão ensinou esta
doutrina, mas hoje em dia até as pessoas instruídas acham difícil de compreendê-la. O problema
da ordem tem sido uma das principais preocupações dos conservadores desde que a palavra
conservador se tornou um termo político.
O nosso mundo do século XX experimentou as terríveis conseqüências do colapso na
crença em uma ordem moral. Assim como as atrocidades e os desastres da Grécia do V século
a.C., a ruína das grandes nações, em nosso século, nos mostra o poço dentro do qual caem as
sociedades que fazem confusão entre o interesse pessoal, ou engenhosos controles sociais, e as
soluções satisfatórias da ordem moral tradicional.
- O conservador adere ao costume,á convenção,e a continuidade
É o costume tradicional que permite que as pessoas vivam juntas pacificamente; os
destruidores dos costumes demolem mais do que o que eles conhecem ou desejam. É através da
convenção – uma palavra bastante mal empregada em nossos dias – que nós conseguimos evitar
as eternas discussões sobre direitos e deveres: o Direito é fundamentalmente um conjunto de
convenções. Continuidade é uma forma de atar uma geração com a outra; isto é tão importante
para a sociedade com o é para o indivíduo; sem isto a vida seria sem sentido. Revolucionários
bem sucedidos conseguem apagar os antigos costumes, ridicularizar as velhas convenções e
quebrar a continuidade das instituições sociais – motivo pelo qual, nos últimos tempos, eles têm
descoberto a necessidade de estabelecer novos costumes, convenções e continuidade; mas este
processo é lento e doloroso; e a nova ordem social que eventualmente emerge pode ser muito
inferior à antiga ordem que os radicais derrubaram um seu zelo pelo Paraíso Terrestre.
Os conservadores são defensores do costume, da convenção e da continuidade porque
preferem o diabo conhecido ao diabo que não conhecem. Eles crêem que ordem, justiça e
liberdade são produtos artificiais de uma longa experiência social, o resultado de séculos de
tentativas, reflexão e sacrifício. Por isto, o organismo social é uma espécie de corporação
espiritual, comparável à Igreja; pode até ser chamado de comunidade de almas. A sociedade
humana não é uma máquina, para ser tratada mecanicamente. A continuidade, a seiva vital de
uma sociedade não pode ser interronpida. A necessidade de uma mudança prudente, recordada
por Burke, está na mente de um conservador. Mas a mudança necessária, redargúem os
conservadores, deve ser gradual e descriminativa, nunca se desvencilhando de uma só vez dos
antigos cuidados.
- Conservadores acreditam no que pode ser chamado o princípio da prescrição
Os conservadores percebem que as pessoas atuais são anões nos ombros de gigantes,
capazes de ver mais longe do que seus ancestrais apenas por causa da grande estatura dos que
3
nos precederam no tempo. Por isto os conservadores com freqüência enfatizam a importância do
preestabelecimento – ou seja, as coisas estabelecidas por costume imemorial, de cujo contrário
não há memória de homem que se recorde. Há direitos cuja principal ratificação é a própria
antiguidade – inclusive, com freqüência, direitos de propriedade. Da mesma forma a nossa moral
é, em grande parte, preestabelecida. Os conservadores argumentam que seja improvável que nós
modernos façamos alguma grande descoberta em termos de moral, de política ou de bom gosto.
É perigoso avaliar cada tema eventual tendo como base o julgamento pessoal e a racionalidade
pessoal. O indivíduo é tolo, mas a espécie é sábia, declarou Burke. Na política nós agimos bem
se observarmos o precedente, o preestabelecido e até o preconceito, porque a grande e misteriosa
incorporação da raça humana adquiriu uma sabedoria prescritiva muito maior do que a
mesquinha racionalidade privada de uma pessoa.
- Conservadores são guiados por seu princípio da prudência
Burke concorda com Platão que entre os estadistas a prudência é a primeira das virtudes.
Toda medida política deveria ser medida a partir das prováveis conseqüências de longo prazo,
não apenas pela vantagem temporária e pela popularidade. Os progressistas e os radicais, dizem
os conservadores, são imprudentes: porque eles se lançam aos seus objetivos sem dar muita
importância ao risco de novos abusos, piores do que os males que esperam varrer. Com diz John
Randolph of Roanoke, a Providência se move devagar, mas o demônio está sempre com pressa.
Sendo a sociedade humana complexa, os remédios não podem ser simples, se desejam ser
eficazes. O conservador afirma que só agirá depois de uma reflexão adequada, tendo pesado as
conseqüências. Reformas repentinas e incisivas são tão perigosas quanto as cirurgias repentinas e
incisivas.
- Conservadores Prestam atenção ao princípio da diversidade
Eles gostam do crescente emaranhado de instituições sociais e dos modos de vida
tradicionais, e isto os diferencia da uniformidade estreita e do igualitarismo entorpecente dos
sistemas radicais. Em qualquer civilização, para que seja preservada uma diversidade sadia,
devem sobreviver ordens e classes, diferenças em condições matérias e várias formas de
desigualdade. As únicas formas verdadeiras de igualdade são a igualdade do Juízo Final e a
igualdade diante do tribunal de justiça; todas as outras tentativas de nivelamento irão conduzir,
na melhor das hipóteses, à estagnação social. Uma sociedade precisa de liderança honesta e
capaz; e se as diferenças naturais e institucionais forem abolidas, algum tirano ou algum bando
de oligarcas desprezíveis irá rapidamente criar novas formas de desigualdade.
- Conservadores se purificam por seu princípio da imperfeição
A natureza humana sofre irremediavelmente de certas falhas graves, bem conhecidas
pelos conservadores. Sendo o homem imperfeito, nenhuma ordem social perfeita poderá jamais
ser criada. Por causa da inquietação humana, a humanidade tornar-se-ia rebelde sob qualquer
dominação utópica e se desmantelaria, mais uma vez, em violento desencontro – ou então
morreria de tédio. Buscar a utopia é terminar num desastre, dizem os conservadores: nós não
somos capazes de coisas perfeitas. Tudo o que podemos esperar razoavelmente é uma sociedade
que seja sofrivelmente ordenada, justa e livre, na qual alguns males, desajustes e desprazeres
continuarão a se esconder. Dando a devida atenção à prudente reforma, podemos preservar e
aperfeiçoar esta ordem sofrível. Mas se os baluartes tradicionais de instituição e moralidade de
uma nação forem negligenciados, se dá largas ao impulso anárquico que está no ser humano:
“afoga-se o ritual da inocência”4
. Os ideólogos que prometem a perfeição do homem e da
sociedade transformaram boa parte do século XX em um inferno terrestre.
- Conservadores estão convencidos que a liberdade e a propriedade são intimamente relacionadas
Separe a propriedade do domínio privado e Leviatã se tornará o mestre de tudo. Sobre o
fundamento da propriedade privada, construíram-se grandes civilizações. Quanto mais se
espalhar o domínio da propriedade privada, tanto mais a nação será estável e produtiva. Os
conservadores defendem que o nivelamento econômico não é progresso econômico. Aquisição e
gasto não são as finalidades principais da existência humana; mas deve-se desejar uma sólida
base econômica para a pessoa, a família e o estado. Sir Henry Maine, em sua Village
Communities, defende vigorosamente a causa da propriedade privada, como diferente da
propriedade pública: “Ninguém pode ao mesmo tempo atacar a propriedade privada e dizer que
aprecia a civilização. A história destas duas realidades não pode ser desintrincada”. Pois a
instituição da propriedade privada tem sido um instrumento poderoso, ensinando a
responsabilidade a homens e mulheres, dando motivos para a integridade, apoiando a cultura
geral e elevando a humanidade acima do nível do mero trabalho pesado, proporcionando tempo
livre para pensar e liberdade para agir. Ser capaz de guardar o fruto do próprio trabalho; ser
capaz de ver o próprio trabalho transformado em algo de duradouro; ser capaz de deixar em
herança a sua propriedade para sua posteridade; ser capaz de se erguer da condição natural da
oprimente pobreza para a segurança de uma realização estável; ter algo que é realmente
propriedade pessoal – estas são vantagens difíceis de refutar. O conservador reconhece que a
posse de propriedade estabelece certos deveres do possuidor; ele reconhece com alegria estas
obrigações morais e legais.
- Conservadores suportam ações comunitárias voluntárias,tanto quanto se opõem ao coletivismo involuntário
Embora os americanos tenham se apegado vigorosamente aos direitos privados e de
privacidade, também têm sido um povo conhecido por seu bem sucedido espírito comunitário.
Na verdadeira comunidade, as decisões que afetam de forma mais direta as vidas dos cidadãos
são tomadas no âmbito local e de forma voluntária. Algumas destas função são desempenhadas
por organismos políticos locais, outras por associações privadas: enquanto permanecem no
âmbito local e são caracterizadas pelo comum acordo das pessoas envolvidas, elas constituem
comunidades saudáveis. Mas quando as funções, quer por deficiência, quer por usurpação,
passam para uma autoridade central, a comunidade se encontra em sério perigo. Se existe algo de
benéfico ou prudente em uma democracia moderna, isto se dá através da volição cooperativa. Se,
então, em nome de uma democracia abstrata, as funções da comunidade são transferidas para
uma coordenação política distante, o governo verdadeiro, através do consentimento dos
governados, cede lugar para um processo de padronização hostil à liberdade e à dignidade
humanas.
Uma nação não é mais forte do que as numerosas pequenas comunidades pelas quais é
composta. Uma administração central, ou um grupo seleto de administradores e servidores
públicos, por mais bem intencionado e bem treinado que seja, não pode produzir justiça,
prosperidade e tranqüilidade para uma massa de homens e mulheres privada de suas
responsabilidades de outrora. Esta experiência já foi feita; e foi desastrosa. É a realização de
nossos deveres em comunidade que nos ensina a prudência, a eficiência e a caridade.
- O conservador percebe a necessidade de prudentes restrições ao poder e as paixões humanas
Politicamente falando, poder é a capacidade de se fazer aquilo que se queira, a despeito
da aspiração dos próprios companheiros. Um estado em que um indivíduo ou um pequeno grupo
é capaz de dominar as aspirações de seus companheiros sem controles é um despotismo, querseja monárquico, aristocrático ou democrático. Quando cada pessoa pretende ser um poder em si
mesmo, então a sociedade se transforma numa anarquia. A anarquia nunca dura muito tempo, já
que, sendo intolerável para todos e contrária ao fato irrefutável de que algumas pessoas são mais
fortes e espertas do que seus próximos. À anarquia sucede a tirania ou a oligarquia, nas quais o
poder é monopolizado por pouquíssimos.
O conservado se esforça por limitar e balancear o poder político para que não surjam nem
a anarquia, nem a tirania. No entanto, em todas as épocas, homens e mulheres foram tentados a
derrubar os limites colocados sobre o poder, a favor de um capricho temporário. É uma
característica do radical que ele pense o poder como uma força para o bem – desde que o poder
caia em suas mãos. Em nome da liberdade, os revolucionários franceses e russos aboliram os
limites tradicionais ao poder; mas o poder não pode ser abolido; e ele sempre acha um jeito de
terminar nas mãos de alguém. O poder que os revolucionários pensavam ser opressor nas mãos
do antigo regime, tornou-se muitas vezes mais tirânico nas mãos dos novos mestres do estado.
Sabendo que a natureza humana é uma mistura do bem e do mal, o conservador não
coloca sua confiança na mera benevolência. Restrições constitucionais, freios e contrapesos
políticos (checks and balances), correta coerção das leis, a rede tradicional e intricada de
contenções sobre a vontade e o apetite – tudo isto o conservador aprova como instrumento de
liberdade e de ordem. Um governo justo mantém uma tensão saudável entre as reivindicações da
autoridade e as reivindicações da liberdade.
- O pensador conservador compreende que essas permanências e mudanças devam ser reconhecidas e reconciliadas em uma sociedade vigorosa
O conservado não se opõe ao aprimoramento da sociedade, embora ele tenha suas
dúvidas sobre a existência de qualquer força parecida com um místico Progresso, com P
maiúsculo, em ação no mundo. Quando uma sociedade progride em alguns aspectos, geralmente
ela está decaindo em outros. O conservador sabe que qualquer sociedade sadia é influenciada por
duas forças, que Samuel Taylor Coleridge chamou de Conservação e Progressão (Permanence
and Progression). A Conservação de uma sociedade é formada pelos interesses e convicções
duradouros que nos dão estabilidade e continuidade; sem esta a Conservação as fontes do grande
abismo se dissolvem, a sociedade resvala para a anarquia. A Progressão de uma sociedade é
aquele espírito e conjunto de talentos que nos instiga a realizar uma prudente reforma e
aperfeiçoamento; sem esta Progressão, um povo fica estagnado. Por isto o conservador
inteligente se esforça por reconciliar as reivindicações da Conservação e as reivindicações da
Progressão. Ele pensa que o progressista e o radical, cegos aos justos reclamos da Conservação,
colocariam em perigo a herança que nos foi legada, num esforço de nos apressar na direção de
um duvidoso Paraíso Terrestre. O conservador, em suma, é a favor de um razoável e moderado
progresso; ele se opõe ao culto do Progresso, cujos devotos crêem que tudo o que é novo é
necessariamente superior a tudo o que é velho.
O conservador raciocina que a mudança é essencial para um corpo social da mesma
forma que o é para o corpo humano. Um corpo que deixou de se renovar, começou a morrer.
Mas se este corpo deve ser vigoroso, a mudança deve acontecer de uma forma harmoniosa,
adequando-se à forma e à natureza do corpo; do contrário a mudança produz um crescimento
monstruoso, um câncer que devora o seu hospedeiro. O conservado cuida para que numa
sociedade nada nunca seja completamente velho e que nada nunca seja completamente novo.
Esta é a forma de conservar uma nação, da mesma forma que é o meio de conservar um
organismo vivo. Quanta mudança seja necessária em uma sociedade, e que tipo de mudança,
depende das circunstâncias de uma época e de uma nação.
Estes são os 10 princípios conservadores que formaram a a principal definição do que é ser conservador nos últimos 30 anos sendo produzido pelo brilhante Russel Kirk ,principal representante do pensamento conservador no século passado.
Ainda como destacado pelo Padre Paulo Ricardo poderiam ter sido mencionados a visão conservadora de justiça e educação,esses que são assuntos que pretendo abordar mais a frente no site Manual Do Conservador Brasileiro.
Esta ordem é feita para o homem, e o homem é feito para ela:a natureza humana é uma
constante e as verdades morais são permanentes.
Esta palavra ordem quer dizer harmonia. Há dois aspectos ou tipos de ordem: a ordem
interior da alma e a ordem exterior do estado. Vinte e cinco séculos atrás, Platão ensinou esta
doutrina, mas hoje em dia até as pessoas instruídas acham difícil de compreendê-la. O problema
da ordem tem sido uma das principais preocupações dos conservadores desde que a palavra
conservador se tornou um termo político.
O nosso mundo do século XX experimentou as terríveis conseqüências do colapso na
crença em uma ordem moral. Assim como as atrocidades e os desastres da Grécia do V século
a.C., a ruína das grandes nações, em nosso século, nos mostra o poço dentro do qual caem as
sociedades que fazem confusão entre o interesse pessoal, ou engenhosos controles sociais, e as
soluções satisfatórias da ordem moral tradicional.
É o costume tradicional que permite que as pessoas vivam juntas pacificamente; os
destruidores dos costumes demolem mais do que o que eles conhecem ou desejam. É através da
convenção – uma palavra bastante mal empregada em nossos dias – que nós conseguimos evitar
as eternas discussões sobre direitos e deveres: o Direito é fundamentalmente um conjunto de
convenções. Continuidade é uma forma de atar uma geração com a outra; isto é tão importante
para a sociedade com o é para o indivíduo; sem isto a vida seria sem sentido. Revolucionários
bem sucedidos conseguem apagar os antigos costumes, ridicularizar as velhas convenções e
quebrar a continuidade das instituições sociais – motivo pelo qual, nos últimos tempos, eles têm
descoberto a necessidade de estabelecer novos costumes, convenções e continuidade; mas este
processo é lento e doloroso; e a nova ordem social que eventualmente emerge pode ser muito
inferior à antiga ordem que os radicais derrubaram um seu zelo pelo Paraíso Terrestre.
Os conservadores são defensores do costume, da convenção e da continuidade porque
preferem o diabo conhecido ao diabo que não conhecem. Eles crêem que ordem, justiça e
liberdade são produtos artificiais de uma longa experiência social, o resultado de séculos de
tentativas, reflexão e sacrifício. Por isto, o organismo social é uma espécie de corporação
espiritual, comparável à Igreja; pode até ser chamado de comunidade de almas. A sociedade
humana não é uma máquina, para ser tratada mecanicamente. A continuidade, a seiva vital de
uma sociedade não pode ser interronpida. A necessidade de uma mudança prudente, recordada
por Burke, está na mente de um conservador. Mas a mudança necessária, redargúem os
conservadores, deve ser gradual e descriminativa, nunca se desvencilhando de uma só vez dos
antigos cuidados.
Os conservadores percebem que as pessoas atuais são anões nos ombros de gigantes,
capazes de ver mais longe do que seus ancestrais apenas por causa da grande estatura dos que
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nos precederam no tempo. Por isto os conservadores com freqüência enfatizam a importância do
preestabelecimento – ou seja, as coisas estabelecidas por costume imemorial, de cujo contrário
não há memória de homem que se recorde. Há direitos cuja principal ratificação é a própria
antiguidade – inclusive, com freqüência, direitos de propriedade. Da mesma forma a nossa moral
é, em grande parte, preestabelecida. Os conservadores argumentam que seja improvável que nós
modernos façamos alguma grande descoberta em termos de moral, de política ou de bom gosto.
É perigoso avaliar cada tema eventual tendo como base o julgamento pessoal e a racionalidade
pessoal. O indivíduo é tolo, mas a espécie é sábia, declarou Burke. Na política nós agimos bem
se observarmos o precedente, o preestabelecido e até o preconceito, porque a grande e misteriosa
incorporação da raça humana adquiriu uma sabedoria prescritiva muito maior do que a
mesquinha racionalidade privada de uma pessoa.
Burke concorda com Platão que entre os estadistas a prudência é a primeira das virtudes.
Toda medida política deveria ser medida a partir das prováveis conseqüências de longo prazo,
não apenas pela vantagem temporária e pela popularidade. Os progressistas e os radicais, dizem
os conservadores, são imprudentes: porque eles se lançam aos seus objetivos sem dar muita
importância ao risco de novos abusos, piores do que os males que esperam varrer. Com diz John
Randolph of Roanoke, a Providência se move devagar, mas o demônio está sempre com pressa.
Sendo a sociedade humana complexa, os remédios não podem ser simples, se desejam ser
eficazes. O conservador afirma que só agirá depois de uma reflexão adequada, tendo pesado as
conseqüências. Reformas repentinas e incisivas são tão perigosas quanto as cirurgias repentinas e
incisivas.
Eles gostam do crescente emaranhado de instituições sociais e dos modos de vida
tradicionais, e isto os diferencia da uniformidade estreita e do igualitarismo entorpecente dos
sistemas radicais. Em qualquer civilização, para que seja preservada uma diversidade sadia,
devem sobreviver ordens e classes, diferenças em condições matérias e várias formas de
desigualdade. As únicas formas verdadeiras de igualdade são a igualdade do Juízo Final e a
igualdade diante do tribunal de justiça; todas as outras tentativas de nivelamento irão conduzir,
na melhor das hipóteses, à estagnação social. Uma sociedade precisa de liderança honesta e
capaz; e se as diferenças naturais e institucionais forem abolidas, algum tirano ou algum bando
de oligarcas desprezíveis irá rapidamente criar novas formas de desigualdade.
A natureza humana sofre irremediavelmente de certas falhas graves, bem conhecidas
pelos conservadores. Sendo o homem imperfeito, nenhuma ordem social perfeita poderá jamais
ser criada. Por causa da inquietação humana, a humanidade tornar-se-ia rebelde sob qualquer
dominação utópica e se desmantelaria, mais uma vez, em violento desencontro – ou então
morreria de tédio. Buscar a utopia é terminar num desastre, dizem os conservadores: nós não
somos capazes de coisas perfeitas. Tudo o que podemos esperar razoavelmente é uma sociedade
que seja sofrivelmente ordenada, justa e livre, na qual alguns males, desajustes e desprazeres
continuarão a se esconder. Dando a devida atenção à prudente reforma, podemos preservar e
aperfeiçoar esta ordem sofrível. Mas se os baluartes tradicionais de instituição e moralidade de
uma nação forem negligenciados, se dá largas ao impulso anárquico que está no ser humano:
“afoga-se o ritual da inocência”4
. Os ideólogos que prometem a perfeição do homem e da
sociedade transformaram boa parte do século XX em um inferno terrestre.
Separe a propriedade do domínio privado e Leviatã se tornará o mestre de tudo. Sobre o
fundamento da propriedade privada, construíram-se grandes civilizações. Quanto mais se
espalhar o domínio da propriedade privada, tanto mais a nação será estável e produtiva. Os
conservadores defendem que o nivelamento econômico não é progresso econômico. Aquisição e
gasto não são as finalidades principais da existência humana; mas deve-se desejar uma sólida
base econômica para a pessoa, a família e o estado. Sir Henry Maine, em sua Village
Communities, defende vigorosamente a causa da propriedade privada, como diferente da
propriedade pública: “Ninguém pode ao mesmo tempo atacar a propriedade privada e dizer que
aprecia a civilização. A história destas duas realidades não pode ser desintrincada”. Pois a
instituição da propriedade privada tem sido um instrumento poderoso, ensinando a
responsabilidade a homens e mulheres, dando motivos para a integridade, apoiando a cultura
geral e elevando a humanidade acima do nível do mero trabalho pesado, proporcionando tempo
livre para pensar e liberdade para agir. Ser capaz de guardar o fruto do próprio trabalho; ser
capaz de ver o próprio trabalho transformado em algo de duradouro; ser capaz de deixar em
herança a sua propriedade para sua posteridade; ser capaz de se erguer da condição natural da
oprimente pobreza para a segurança de uma realização estável; ter algo que é realmente
propriedade pessoal – estas são vantagens difíceis de refutar. O conservador reconhece que a
posse de propriedade estabelece certos deveres do possuidor; ele reconhece com alegria estas
obrigações morais e legais.
Embora os americanos tenham se apegado vigorosamente aos direitos privados e de
privacidade, também têm sido um povo conhecido por seu bem sucedido espírito comunitário.
Na verdadeira comunidade, as decisões que afetam de forma mais direta as vidas dos cidadãos
são tomadas no âmbito local e de forma voluntária. Algumas destas função são desempenhadas
por organismos políticos locais, outras por associações privadas: enquanto permanecem no
âmbito local e são caracterizadas pelo comum acordo das pessoas envolvidas, elas constituem
comunidades saudáveis. Mas quando as funções, quer por deficiência, quer por usurpação,
passam para uma autoridade central, a comunidade se encontra em sério perigo. Se existe algo de
benéfico ou prudente em uma democracia moderna, isto se dá através da volição cooperativa. Se,
então, em nome de uma democracia abstrata, as funções da comunidade são transferidas para
uma coordenação política distante, o governo verdadeiro, através do consentimento dos
governados, cede lugar para um processo de padronização hostil à liberdade e à dignidade
humanas.
Uma nação não é mais forte do que as numerosas pequenas comunidades pelas quais é
composta. Uma administração central, ou um grupo seleto de administradores e servidores
públicos, por mais bem intencionado e bem treinado que seja, não pode produzir justiça,
prosperidade e tranqüilidade para uma massa de homens e mulheres privada de suas
responsabilidades de outrora. Esta experiência já foi feita; e foi desastrosa. É a realização de
nossos deveres em comunidade que nos ensina a prudência, a eficiência e a caridade.
Politicamente falando, poder é a capacidade de se fazer aquilo que se queira, a despeito
da aspiração dos próprios companheiros. Um estado em que um indivíduo ou um pequeno grupo
é capaz de dominar as aspirações de seus companheiros sem controles é um despotismo, querseja monárquico, aristocrático ou democrático. Quando cada pessoa pretende ser um poder em si
mesmo, então a sociedade se transforma numa anarquia. A anarquia nunca dura muito tempo, já
que, sendo intolerável para todos e contrária ao fato irrefutável de que algumas pessoas são mais
fortes e espertas do que seus próximos. À anarquia sucede a tirania ou a oligarquia, nas quais o
poder é monopolizado por pouquíssimos.
O conservado se esforça por limitar e balancear o poder político para que não surjam nem
a anarquia, nem a tirania. No entanto, em todas as épocas, homens e mulheres foram tentados a
derrubar os limites colocados sobre o poder, a favor de um capricho temporário. É uma
característica do radical que ele pense o poder como uma força para o bem – desde que o poder
caia em suas mãos. Em nome da liberdade, os revolucionários franceses e russos aboliram os
limites tradicionais ao poder; mas o poder não pode ser abolido; e ele sempre acha um jeito de
terminar nas mãos de alguém. O poder que os revolucionários pensavam ser opressor nas mãos
do antigo regime, tornou-se muitas vezes mais tirânico nas mãos dos novos mestres do estado.
Sabendo que a natureza humana é uma mistura do bem e do mal, o conservador não
coloca sua confiança na mera benevolência. Restrições constitucionais, freios e contrapesos
políticos (checks and balances), correta coerção das leis, a rede tradicional e intricada de
contenções sobre a vontade e o apetite – tudo isto o conservador aprova como instrumento de
liberdade e de ordem. Um governo justo mantém uma tensão saudável entre as reivindicações da
autoridade e as reivindicações da liberdade.
O conservado não se opõe ao aprimoramento da sociedade, embora ele tenha suas
dúvidas sobre a existência de qualquer força parecida com um místico Progresso, com P
maiúsculo, em ação no mundo. Quando uma sociedade progride em alguns aspectos, geralmente
ela está decaindo em outros. O conservador sabe que qualquer sociedade sadia é influenciada por
duas forças, que Samuel Taylor Coleridge chamou de Conservação e Progressão (Permanence
and Progression). A Conservação de uma sociedade é formada pelos interesses e convicções
duradouros que nos dão estabilidade e continuidade; sem esta a Conservação as fontes do grande
abismo se dissolvem, a sociedade resvala para a anarquia. A Progressão de uma sociedade é
aquele espírito e conjunto de talentos que nos instiga a realizar uma prudente reforma e
aperfeiçoamento; sem esta Progressão, um povo fica estagnado. Por isto o conservador
inteligente se esforça por reconciliar as reivindicações da Conservação e as reivindicações da
Progressão. Ele pensa que o progressista e o radical, cegos aos justos reclamos da Conservação,
colocariam em perigo a herança que nos foi legada, num esforço de nos apressar na direção de
um duvidoso Paraíso Terrestre. O conservador, em suma, é a favor de um razoável e moderado
progresso; ele se opõe ao culto do Progresso, cujos devotos crêem que tudo o que é novo é
necessariamente superior a tudo o que é velho.
O conservador raciocina que a mudança é essencial para um corpo social da mesma
forma que o é para o corpo humano. Um corpo que deixou de se renovar, começou a morrer.
Mas se este corpo deve ser vigoroso, a mudança deve acontecer de uma forma harmoniosa,
adequando-se à forma e à natureza do corpo; do contrário a mudança produz um crescimento
monstruoso, um câncer que devora o seu hospedeiro. O conservado cuida para que numa
sociedade nada nunca seja completamente velho e que nada nunca seja completamente novo.
Esta é a forma de conservar uma nação, da mesma forma que é o meio de conservar um
organismo vivo. Quanta mudança seja necessária em uma sociedade, e que tipo de mudança,
depende das circunstâncias de uma época e de uma nação.
Estes são os 10 princípios conservadores que formaram a a principal definição do que é ser conservador nos últimos 30 anos sendo produzido pelo brilhante Russel Kirk ,principal representante do pensamento conservador no século passado.
Ainda como destacado pelo Padre Paulo Ricardo poderiam ter sido mencionados a visão conservadora de justiça e educação,esses que são assuntos que pretendo abordar mais a frente no site Manual Do Conservador Brasileiro.